Dezoito anos
se passaram e com eles persistia um vazio que mais tarde viria a ser preenchido
sem qualquer aviso prévio.
Eis que
surge: Vill’Alcina, a casa de férias de Sérgio Fernandez em Caminha (sim
Caminha, a mesma Caminha que me deslumbra desde criança e à qual eu pertenço).
“Era uma
intenção do projecto fazer desaparecer a arquitectura, torna-la invisível, não
só pela discrição física e diluição no terreno em que se insere, mas também
pelo modo como o projecto parece ser indiferente perante a possibilidade de
afirmar alguma representatividade ou autoria (…) ”.1
A intenção
do arquitecto ao fazer o projecto era mais do que evidente: para além de uma
casa acolhedora, que lhe providenciasse todo o conforto que uma casa de férias
deve ter, Sérgio Fernandez queria que a mesma passasse despercebida e que se
fundisse com a própria natureza do local, de maneira que fosse imperceptível a
olho nu por quem passeia por entre a mata do Camarido e pela marginal de
Caminha.
Pois bem, objectivo
cumprido com sucesso, diria eu como testemunho vivo de alguém que vive numa
cota mais baixa à da casa e que, apesar de ter contemplado vezes sem conta o
monte nunca deu pela sua existência. O facto é que a casa passa despercebida
aos olhos desatentos, talvez de quem nunca imaginou encontrar tal obra a poucos
metros de casa.
“Acordai corações da
minha terra / Evitai destruir tanta beleza, / Preservemos com carinho / As
águas do rio Minho, / A nossa mãe natureza.”2
Perante paisagem tão
imponente e arrebatadora, houve por parte do arquitecto a incapacidade, ou,
mais provavelmente o dom, de não “ferir” paisagem tão imaculada com a
implantação de um edifício.
Não devemos deixar
que a mão do homem seja mais forte do que a Natureza, permitindo, no entanto, a
sua intervenção. O desejo do arquitecto em não intervir demasiado no local e
manter a beleza do que encontrou e pelo qual ficou apaixonado, ao ponto de
querer fazer dele o seu retiro, viria a mostrar-se mais tarde, aquando a
escolha dos materiais da casa. “O
material e a forma reproduzem o terreno como um eco que se reveste da mesma
rudeza”.3 O arquitecto foi “submisso” à paisagem e escolheu
materiais da zona para que o seu projecto ganhasse forma, sem que por isso
pusesse em causa o seu conforto.
A casa é um
prolongamento do terreno existente e está, de facto, em harmonia com o ambiente
que a envolve. Deste modo, o arquitecto faz a junção do vidro aos restantes
materiais, de maneira contida e com uma direcção estudada que nos direcciona o
olhar, porque na verdade a casa foi pensada para ver e não para ser vista.
Hoje,
o meu olhar está a ser treinado a ver para além do que olho, e que fantástico é
o que dele advém…
Notas bibl.: 1. TAVARES, André e
Bandeira, Pedro, “ Só Nós e Santa Tecla”, em André Tavares & Pedro Bandeira
(ed.), Só Nós e Santa Tecla, Porto: Dafne Editora, 2008, (p.7).
2.PINTO,
José Maria Gavinho, En(cantos) do Minho,
Portugal, Caminha, Edição de autor, 1997,
pág. 23
3. FERNANDEZ, Sérgio, Percurso, Porto:
FAUP Publicações, 1988, (p. 190)
Imagens:http://www.inesdorey.com/index.php?/projectos/ditados-velhos-sao-evangelhos/
Quando o que nos inspira é belo, o resultado é muito mais belo. Texto maravilhoso... parabéns !!!!
ResponderEliminarUm texto bastante profundo e já com uma visão duma excelente profissional..
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